Minha coleção de detalhes

É possível gostar de alguém "de graça"? Sim, eu acho. Ainda mais na minha posição de observadora nata. Passo horas observando pessoas e seus gestos, falas, sons, detalhes... E assim acabo me apaixonando por esses miúdos. Coleciono momentos. Gosto de sentir uma respiração, uma pele tocando a outra. Gosto de sentir a energia fluindo de um corpo ao outro, nem que seja por um esbarrão. Gosto de dar vida a essas coisas. Como um beijo na bochecha: sua boca cumprimenta a bochecha de alguém e vice e versa... eles trocam palavras no momento do beijo, digo, a sua pele e a da outra pessoa.
Me apaixonei seriamente por 3 garotos ao longo dos meus 20 anos (todas as paixões envolveram detalhes), não obtive êxito em nenhuma dessas paixões. Mas, ainda assim, eu gosto de me apaixonar.
Guardo em minha memória, uma infinidade de gestos e palavras bobas que, na maioria das vezes passaria desapercebida por qualquer outra pessoa. E eu amo isso.
E quando você passa a conhecer a pessoa que, de início, você gostou "de graça", a paixão só aumenta, porque você consegue reunir cada vez mais detalhes sobre ela em sua coleção... Você vê mais de perto o sorriso da pessoa, e se encanta mais. O olhar... sente a respiração mais de perto, e se encanta mais e mais. Os fiapos de cabelo bagunçado. O jeito como as mãos se movimentam. A forma como os pés se comportam. E cada vez... se encanta mais.
A única coisa que eu não gosto nisso tudo é quando a paixão resolve se escancarar. Quando ela se deixa reparar, transparecer... Nunca tenho muita sorte quando a tal resolve querer pousar no ouvido do dono.
Tenho três coleções recheadas de paixões. Duas resolveram se entregar, uma nem precisou, as peças se perderam no caminho.
Será natural se eu tiver medo de começar uma coleção nova?
Mas, ainda assim, eu gosto de me apaixonar.