[entrou no ônibus, fechou os olhos e só quis saber do vento batendo em seu rosto. depois de uns 2 minutos apreciando essa sensação única, resolveu voltar ao mundo ao seu redor. depois disso, retomou ao processo de pensar em suas inutilidades e teorias e se deu conta de que, não seria tão feliz caso não tivesse a maldita miopía. de que outra forma você pode se desligar do mundo, andando pelas ruas, sem o extremo de exergar demais e olhar todas as repetitivas pessoas ou de ter a angustiante cegueira e a vontade eterna de saber como são as cores e os detalhes da vida? não há outro jeito.]
as pessoas cansam... as pessoas são repetições uma das outras, e cansam. cansa olhar pra elas toda vez que você sai na rua, e vê o mesmo tipo de ser humano. cidadão padrão, trabalhador, com sua rotina diária de pensamentos e afazeres. não há tempo pra pensar, não há tempo pra criar, não há tempo pra por sua humanidade em prática. você sobrevive. com a sua rotina. não pensa em anda além disso. cansa ver isso.
também cansa olhar praquelas pessoas que vivem em função de seu exterior, da sua beleza, e do que os outros vão pensar. eu não sei se isso é me preocupar demais com a vida dos outros ou se seria egoísmo da minha parte não pensar em nada disso, mas tomemos como exemplo certa escola municipal que frequento quase que diariamente. quando eu entro e me deparo com todas, repito, todas as meninas de bermudas enfiada na bunda, meia soquete, sapatilha moleca, cabelos chupados num rabo de cavalo alto e bastante kolene escorrendo do cabelo, penso que a humanidade acabou. dramático, mas penso. elas vivem em função disso. em função de ficarem mais 'bonitas', pra poder tirar um sarro com o fulaninho no muro da escola e contar o grande feito no dia seguinte fazendo escandalo pras amigas. esse é o objetivo de vida da maioria delas.
outro dia pude ouvir uma delas falando "ha-ha! ai daquela mulé me mandar estudar hoje! olha néim, nem mochila eu trouxe, vim só com essa bolsinha aqui!"... depois as pessoas vem dizer que é falta de oportunidade na vida. acredito sim, claro que existe muita falta de oportunidade por aí... mas e quando, como nesse caso, a oportunidade existe? o problema vem daonde? de casa? educação dos pais? ou melhor, a falta de instrução dos pais?
o que eu posso fazer pra tentar mudar isso? eu simplesmente não faço idéia pra mudar essa situação. investir nas crianças? o Brasil é o país do futuro há quantas décadas? cadê o futuro? tentar investir nos adolescentes e ter em retribuição uma bolsinha sem caderno e lápis ou o mínimo de atenção que você possa ter? simplesmente não sei.
devo estar tendo uma posição pessimista de tudo isso, mas não consigo me imaginar sozinha mudando isso tudo. faz parecer que tudo é em vão.
fora isso, cansa ver os meninos dando uma de traficantes por aí. hoje mesmo, caminhando na calçada dessa escola, veio um na minha direção, quando me viu respirou fundo, fez sua expressão especial para assustar transeuntes indefesos e começou a cantar um funk qualquer naquele seu melhor sotaque a lá malandro. não me assusta mais, não esse tipo. não mesmo. só sinto pena. pena da prioridade dele ser parecer um bandido, ter um v3 dourado da dolce & gabbana (roubado) e pegar a mina mais gata da parada.
volto a perguntar, daonde vem isso? como mudar isso?
to me sentindo impotente.
egoísmo da minha parte querer não enxergar de vez em quando? fingir que nada disso acontece?
bendita seja minha miopia.
vamos continuar a ser cidadãos preocupados com a sociedade, lendo a revista veja, assistindo jornal nacional, cumprindo nossas rotinas e fechando a janela de nossos carros quando um molequinho, depois de dois ou três malabarismo vier pedir umas moedas. (ah, mas isso é a segurança! sabe lá se esse moleque vem com uma faca querendo me assaltar? - observação minha cara senhora, quem criou isso foi você...)
longe de mim tomar partido de revolucionária, usar frases batidas querendo igualdade social. eu somente a quero. eu admito que não me interesso por política, se você vier me perguntar em quem eu vou votar nas próximas eleições, eu sinceramente não vou saber te responder. em quem eu realmente devo acreditar? eu voto nulo. como depois de tantas coisas posso dar crédito à algum político?
partido de direita, de esquerda, partido socialista? eu que não ponho minha mão no fogo por nenhum deles. ver seus discursos me fazem rir. já tentei apoiar qualquer manifestação política, já procurei me informar, ams simplesmente não tenho mais fichas a apostar em nenhum deles.
se estou desacreditada? estou.
mais uma vez me sinto impotente.
espero queimar minha lingua com algum eleito que virá. vai ser a queimada de língua mais prazerosa que eu vou ter.
como reagir mediante a isso? sem papo de cidadã modelo, porque ninguém, hoje em dia, é modelo de nada. mas tento fazer o melhor e o cabível na minha posição de pessoa qualquer. com meus atos falhos, com minhas contribuições. me vejo alheia a política, fazendo meu próprio dever e me sinto bem melhor assim. "faço o melhor que sou capaz, só pra viver em paz."
depois de isso tudo, eu só peço, de uma forma clichê, uma coisa só. peço a paz.
Marcha De Quarta-Feira De Cinzas
Vinicius de Moraes / Carlos Lyra
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe
Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz
Seu canto de paz
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