sábado, 3 de maio de 2008

Breve, breve...

A resistência emocional sempre fora seu forte. Agüentava tudo. Havia conseguido se livrar de uma depressão e de uma tal de síndrome do pânico quase que sozinho. Ficava horas absorto em seu pensamento, tentando se reerguer e entender todo o processo no qual estava vivendo. Se lembrou de seu passado, de seus traumas, de tudo o que havia vivido na escola. Tentava achar motivos e soluções, e assim passava horas afinco, pensando. Pensou em seus amigos, suas amizades. Fez o balanço de tudo que havia vivido. Tentava entender porque tinha tanto medo de morrer, porque tinha tanto medo de viver. Lembrava de suas angústias, de suas doenças imaginárias, de suas dores e seu constante mal-estar, suas tonteiras, e suas sensações de irrealidade, como se estivesse olhando a vida através de uma tela, distante de seus olhos. Chegava a pensar que não fazia parte daquele mundo e tudo o que estava vivendo, não passava de um filme estranho, do qual não via a hora de sair. Lembrava que nunca tinha sido assim até aqueles tempos, lembrava do seu prazer em sair, em descobrir o novo e novamente pensava o porque daqueles medos. Passava dias sozinho, sem querer sair com amigos, recusando bons convites, trancado em seu quarto, no escuro, deitado, pensando.
E assim, de tanta insistência, resolveu mudar seu pensamento. "O que tiver que acontecer, vai acontecer." De certo, esse pensamento corriqueiro, foi o ponto chave para que ele conseguisse passar por cima de tantas coisas ruins. Não conseguia achar motivos mais, para viver daquele jeito. Imaginava seu futuro indo por água abaixo e não conseguia se permitir destruir parte de sua vida por esses seus pensamentos. Claro que, imaginava ele, foi tudo uma experiência, e todo tipo de experiência é válido. Com certeza, essa fase de sua vida, contribuiu em grande parte para construção do tipo de pessoa que ele é hoje. Seus momentos sozinho o fizeram conhecer bastante de sua própria personalidade e o fez experimentar vários tipos de reações novas mediante as provações pelas quais estava passando. E apesar disso, ele sabe, que mesmo assim, não se conhece nem pela metade. Mas isso já não importa mais, agora ele só pensa em viver como não havia vivido antes. Sabendo conciliar seus pensamentos antigos. Dosando-os para que não voltem a ser doentios.
É claro, que algumas vezes esses pensamentos voltam a assombrá-lo. De vez em quando ainda acha que tem alguma doença, ainda acha que não pode sair de casa pois uma catástrofe irá acontecer, mas logo após achar isso, o pensamento salvador de que "o que tiver que acontecer, vai acontecer" visita suas idéias, reinstaurando a ordem e a calma de seus pensamentos. Nada desesperador, pois ele sabe que carregará sequelas para o resto de sua vida. O que mais causa estranheza a ele, é o fato dele não se imaginar mais sem essa sua doença. Ele sabe, no fundo de seus pensamentos, que existe um conforto contraditório de que nunca vai estar vazio de sentimentos, pois seus medos sempre estarão lá, mesmo que escondidos e, de tempos em tempos, eles não hesitarão em se revelar de novo, nem que seja uma visita breve.

2 comentários:

Vicky disse...

Estranho seria se não misturase realidade com personagem.(fato)
Bato palmas em pé.
=*

Orofino disse...

"Seus momentos sozinho o fizeram conhecer bastante de sua própria personalidade..."

Pa Pai !
bem bom mesmo gata!
beijo