... 5 minutos em silêncio. É o tempo em que ficamos nos olhando até que eu resolvesse quebrar essa quietude com palavras, nesse momento. Ela pareceu se importar, sempre fica calada, observando os outros... Mas eu preciso acabar com esse clima, já está me incomodando, nunca fui um cara que conseguisse ficar muito tempo sem falar, aliás, eu sempre falei muito... Mas ela não, ela permanece sempre em silêncio quando nos encontramos.
- quer um cigarro?
- não fumo...
- tem fogo?
- tenho...
Conseguia percebê-la... a cada segundo de silêncio ela me escaneia com seus olhos. Percebo que ela vê cada detalhe de meu rosto... O movimento de meus lábios enquanto eu falo, eu juro que eu posso enxergar ela fazendo isso. Essa menina é muito estranha... Sempre achei, e sempre quieta.
(...)
- engraçado...
- o que?
- você não fuma, mas tem fogo...
- é...
e me deu um sorriso tímido
- vamo tomar uma cerveja?
- não bebo...
- ... vamos pr'um bar?
- vamos...!
Será possível? Essa garota sempre me causou estranheza... Andando até o bar mais próximo, nos sentamos e, se eu não iniciar mais uma vez uma conversa, ficaremos mais um longo tempo em silêncio.
(...)
- e aí, me fala mais sobre a sua vida... o que você faz? como você tá?
- eu tô bem ué... e... eu estudo, você sabe, fora isso, eu não faço nada. (sorriu) eu penso, eu ouço música, eu desenho e escrevo, mas fora estudar eu não faço nada...
Ela não vai perguntar quanto a mim? A conversa terminou assim?
- ahm... sim
E sorriu mais uma vez... Está se tornando insuportável permanecer na companhia dessa muda! Começo a olhar ao entorno procurando alguma coisa pra fazer, daquele jeito que a pessoa olha quando não aguenta mais a companhia da outra...
Passaram-se 4 cervejas e algumas palavrinhas trocadas, nem as cervejas me ajudaram a aturar mais o comportamento dela, e também não aguentava mais beber, eu só sentia tédio, um tédio geral, de tudo e qualquer coisa... então, resolvi pedir a conta, paguei e fomos andar... quem sabe, olhando a rua, um assunto não surge, ela não lembra de nada e começa a falar? Doce engano... enquanto andávamos podia reparar que ela ainda me olhava, e, é claro, muda. Então, sendo assim, decidi olhar para ela também. Se é assim que você faz, vamos fazer igual... e comecei a observá-la... Seus olhos, sua pele, seus lábios... Seu cabelo. Ela era bonita, comecei a reparar. E tinha uma doçura inexplicável nos olhos. A medida que eu observava-a, percebia que ela ficava tímida e disfarçava com os olhos desviando o olhar de mim... É né, você pode e quando euf aço o mesmo você não gosta...
Não aguentei...
- você não fala nada?
(...)
...Se eu fosse detalhar a medida exata da reação de espanto dela em relação à minha pergunta, acho que os próprios leitores ficariam espantados... Vamos ao resumo, suas bochechas coraram, seus olhos ficaram arregalados e depois de 5 segundos ela riu... de nervoso. Tentou começar a falar alguma coisa mais só conseguia gaguejar sílabas soltas! Pronto, ou fica muda ou é gaga... Tudo o que eu pedi foi uma companhia assim.
- calma! calma, não precisa ficar com vergonha, mas é que a gente sai e tal... eu esperava que nós conversássemos, sei lá... que você falasse alguma coisa, mas só eu falo, só eu puxo assunto, só eu que...
Foi aí, nesse momento, que quem se calou fui eu, senti que tinha parado de andar de súbito, levei um susto... e quando me dei conta do que estava acontecendo, pude sentir seus lábios macios tocando os meus, sua mão pela minha nuca segurando forte meus cabelos, e a outra no meu quadril. Ela pode não falar nada, mas que beija bem, ahhh, beija... O que ela havia economizado em palavras até aquele momento, estava gastando em beijos. Sentia como se seu corpo estivesse entrando no meu, suas mãos desvendavam meu corpo, cada detalhe dele, desde meu pescoço, minha nuca, passando pelas minhas costas e chegando na minha bunda, é. Mas ao mesmo tempo que me beijava como uma desbravadora, ela era delicada. Fantástica! Tudo isso com um beijo! Incrível como isso podia estar acontecendo. Até esse momento eu estava prestes a odiá-la pela sua mania de mudez, e agora, eu estava completamente caído pelo seu beijo. Que mulher fantástica.
Algum tempo depois... algum muito tempo depois, ela me soltou. E falou.
- era isso.
... Era isso...?
- que eu tinha pra te falar...
E me deu aquele sorriso. Aquele eu estava xingando há algum tempo atrás...
- então...?
Ela olhava pra mim, esperando que eu falasse alguma coisa... Mas eu não conseguia falar nada.
- ... não gostou?
E eu sorri pra ela. Ela entendeu que eu havia gostado, ela entendeu que por mais que ela não falasse nada, que seu beijo tinha me conquistado, ela compreendeu que havia cumprido sua missão.... Então... Me sorriu de volta. Me deu um último beijo e disse que tinha que ir embora. E eu ainda não conseguia pronunciar uma palavra.
- espero que nós nos encontremos mais...
Claro, quero te ver todos os dias agora, quero mais beijos seus, quero seu corpo perto do meu de novo, quero e quero agora, por favor, fica aqui comigo, vamos conversar, quero ficar olhando pra você, e quero fic...
- então... é isso.
É claro que ela estava esperando que eu dissesse alguma coisa, mas eu não conseguia pronunciar uma palavra sequer. Acabei entendendo o porque da mudez dela e o prazer de ficar observando da maneira que ela fazia comigo... Ahh... como eu pude quase odiá-la por isso, como eu pude não entender o porque dela estar fazendo isso, como eu pude não perceber o que ela estava tentando me dizer com aqueles olhos?
2 comentários:
romancista!
puro e ingênuo!
hahahha
tão lindinho!
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