- Seis pães, queijo, iogurte, mais alguma coisa senhora?
- Um maço de cigarros também, por favor. (celular toca) Oi,
meu bem... já estou no caixa. Não Mário... não. Não. Já disse que não, pode
deixar... vou desligar pra pagar aqui. Beijo.
(desliga, celular no bolso)
13, 80 senhora.
Pega dinheiro – aqui moça, brigada... – sai da padaria e
sobe a rua. Acende um cigarro. Acabara de dizer a seu noivo, Mário, que não
compraria-os, mas comprou. Fumava como se estivesse com um baseado na mão,
tensa, pois a qualquer momento uma viatura a pararia. Não gostava dessa
sensação de estar sendo controlada, queria um cigarro pra fumar com o prazer sádico que o
fumante sente ao inalar a fumaça tóxica. Queria sentir se matando aos poucos, com calma, dando devida importância aquilo. Um cigarro não pode ser
fumado de qualquer maneira, como se fosse qualquer coisa. Você deve valorizar uma tragada para tornar o ato um pouco mais
nobre. Mas não podia faze-lo dessa forma. Seu noivo não gostava de
saber estava fumando. Por isso, ainda que fosse apenas buscar o jornal na
portaria do prédio, a menina levava sua bolsinha de mão, com álcool gel e umas
balas para disfarçar o cheiro, pois qualquer oportunidade de inalar a fumaça
não podia ser desperdiçada. Mário nunca percebia.
Não era um rapaz burro , era apenas ingênuo demais
pra acompanhar o ritmo de pensamento de Camila. Ele se preocupava com sua
carreira, em juntar dinheiro para casar com Camila, em montar família, enfim... “ser feliz”.
Camila já estava chegando no portão do prédio onde Mário
morava sozinho. Tinha vindo ao RJ para estudar e seus pais ficaram no Espírito
Santo, porém, ainda assim, não deixavam de se preocupar e acompanhar a vida do
filho. O prédio, era um antiguinho, de escadas, em Copacabana. Era espaçoso por
dentro, como todo apartamento velho da zona sul. Camila passava o final de
semana lá, e alguns dias da semana também, apesar de não saber muito bem se era
isso que queria fazer. Com a proximidade do portão, jogou sua guimba fora,
passou o álcool nas mãos, e sacou uma halls da bolsinha. Tudo O.K pra que mário
nem sonhasse que ela estava fumando.
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